A água percorreu seu corpo, como um doce elixir que livrava-o do veneno da quietação. Secou-se devagar. Seu corpo parecia ter sido tomado por estigmas. As palavras que havia pronunciado estavam presas por uma muralha construída pelo medo e pelo amor. Sentimentos tão distintos, mas que, peculiarmente, se uniram. Sentou-se na poltrona de madeira maciça, coberta por uma manta de tricô branca. Observou a noite púrpura e de poucas estrelas. Pensou que talvez elas também estivessem escondendo-se das suas próprias compaixões. A indiferença que cercava a sua relação o dilacerava, como um tigre que rasga as entranhas de sua presa. Baleado de um não-amor, camuflado por um bem-querer. Onde quis abrigo, encontrou desprezo; onde quis paixão, calmaria; onde queria um “para sempre”, outro “sempre acaba”. A brasa de um amor desmedido e alucinado foi anteparada por uma desventura que esbravejava monotonia e tristeza. Não pelo que tinha, mas pelo que restou: uma caixa de música, asilo de lembranças de um amor fascinante e inútil, a qual era preciso “dar corda” para funcionar, vista a sua incapacidade de operar-se por conta própria. Intolerável se mostrava essa sina de viver meio-amado. Merecia ganhar os caminhos e os amores, perder rumos e pudores. Jogar-se na estrada da vida, sem destino e sem razão, apenas conduzido pelo júbilo que ora estava anulado pela reserva do compromisso. Para onde quer que fugisse, as quatro direções apontavam para o mesmo destino: aquele estranho, mas tão familiar, sentimento de solidão. Perto de um longe e distante de tudo que sonhou para si. Foi então que decidiu não contentar-se com “meio” ou “quase”. Seria, então, um eterno insatisfeito, responsável pela rotação do seu próprio mundo e autor dos maiores e melhores dramas da sua vida.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Rosa dos ventos
A água percorreu seu corpo, como um doce elixir que livrava-o do veneno da quietação. Secou-se devagar. Seu corpo parecia ter sido tomado por estigmas. As palavras que havia pronunciado estavam presas por uma muralha construída pelo medo e pelo amor. Sentimentos tão distintos, mas que, peculiarmente, se uniram. Sentou-se na poltrona de madeira maciça, coberta por uma manta de tricô branca. Observou a noite púrpura e de poucas estrelas. Pensou que talvez elas também estivessem escondendo-se das suas próprias compaixões. A indiferença que cercava a sua relação o dilacerava, como um tigre que rasga as entranhas de sua presa. Baleado de um não-amor, camuflado por um bem-querer. Onde quis abrigo, encontrou desprezo; onde quis paixão, calmaria; onde queria um “para sempre”, outro “sempre acaba”. A brasa de um amor desmedido e alucinado foi anteparada por uma desventura que esbravejava monotonia e tristeza. Não pelo que tinha, mas pelo que restou: uma caixa de música, asilo de lembranças de um amor fascinante e inútil, a qual era preciso “dar corda” para funcionar, vista a sua incapacidade de operar-se por conta própria. Intolerável se mostrava essa sina de viver meio-amado. Merecia ganhar os caminhos e os amores, perder rumos e pudores. Jogar-se na estrada da vida, sem destino e sem razão, apenas conduzido pelo júbilo que ora estava anulado pela reserva do compromisso. Para onde quer que fugisse, as quatro direções apontavam para o mesmo destino: aquele estranho, mas tão familiar, sentimento de solidão. Perto de um longe e distante de tudo que sonhou para si. Foi então que decidiu não contentar-se com “meio” ou “quase”. Seria, então, um eterno insatisfeito, responsável pela rotação do seu próprio mundo e autor dos maiores e melhores dramas da sua vida.
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