quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Universo paralelo



À meia noite, aqueles com audição mais aguçada, puderam ouvir que os ventos do novo ano uivavam, desesperadamente, mudança. As explosões no céu davam uma vaga ideia do que seria o começo das próximas quatro estações. Quando o colorido que enfeitava o céu se dissolvesse nada mais restaria, senão uma grande nuvem de fumaça. O cheiro da fuligem, mesmo quando longe, arrancaria do seu peito todo ar que o alimentava. Não demorou muito para que sua vida fosse bombardeada. O ataque começou pequeno, mas logo tomou grandes proporções. Vivendo não mais que o suficiente para se manter presente, presenciava a tudo que acontecia, mas muito distante para não parecer inserido. Não lhe cabia aquele contexto e, talvez, nem a ele quisesse pertencer. Entretanto, sentia-se atado, tolhido, reprimido e censurado. Efeitos colaterais ou testemunho? Não sabia, mas as emoções se mostravam refletidas de tal forma que mesmo plateia, sentia-se elenco. Em certa medida, estava vivendo num perto tão distante. Longe de tudo que lhe pertencia, da sua vida, do seu mundo. Distanciado por circunstâncias outras, alheias à sua vontade. Naquele momento, sua vida vagava por um universo desconhecido e que jamais poderia explicar. Não conseguia compreender como de um dia para o outro uma cratera abrira entre ele e tudo aquilo que lhe parecia tão familiar, sem que, ao menos, pudesse contestar a invasão. E cada dia que passava era mais sensível o trepidar inerente às mudanças. Pensou que, talvez, a solução fosse explorar e navegar por aquele novo cenário que se instaurava diante dos seus olhos, mas logo viu que a expedição não teria sucesso. Não precisava se adaptar à nova realidade. Toda invasão pode (e deve) ser resistida. Conformação, de fato, nunca fora uma característica presente na sua personalidade e aquela novidade não lhe soava melhora. O cometa que atravessava a sua vida deixava para trás muitas feridas e sensação de autodestruição. Dois mundos que se confrontavam. Seja passageira ou eterna, as situações podem mudar a direção em que seu mundo gira e o dele estava rumando ao avesso. Só podemos nos adaptar a uma realidade se for possível sobreviver e conviver dentro dela e se ela também nos proporcionar a vida. Caso contrário, o próximo passo é a destruição paulatina, a que consume, arrasa e, com certeza, a que causa mais sofrimento. A dominação compõe a natureza humana, contudo só os mais fracos são subalternados sem oposição. A felicidade nunca é real quando é paga com muitos sacrifícios.