quinta-feira, 25 de março de 2010

Composições


De tudo que eras, pouco restou e muito se perdeu, pois perdida estava. A imagem hoje refletida no espelho dos meus olhos era falsa e, certamente, passageira. Acostumei-me a com ela sempre aprender. Do útil ao fútil. Neste novo enredo que construía preferiu a vilã à moçinha, já que agora descrente estava em finais felizes. Assisti a tudo, cada representação, cada ato daquela composição teatral sem manifestar-me. Sabia ser apenas por uma temporada. Desta vez, escolhi platéia à direção. A conhecia profunda e suficientemente bem para saber que debaixo de toda aquela indumentária, a mim estranha, ainda permanecia intacta sua essência. Tratava-se de atuação puramente amadora, daquelas que todos os grandes artistas submeteram-se (porque assim tinham que fazê-lo) antes de alcançar o estrelato. Como mero espectador, não podia, eu, assisti-la como se crítico fosse. Ela tentava fugir de tudo aquilo que um dia fora. Pormenorizou tudo aquilo que sempre manteve em primeiro plano. Parte dela esquivou-se do que era culto, dos seus livros, do seu verdadeiro mundo. Em caminho inexplorado, apenas seguiu, trilhando e trilhando. No topo dessa escalada, não foi contemplada com nenhuma vista paradisíaca ou por do sol memorável. Ao cansar, sentou-se, refletiu. Aquela aventura já não era mais excitante e o novo já não se fazia interessante. Numa noite em que um forte calor precedeu chuva, cheguei a sua casa e fui recebido com vinho e ópera. Sentados ao chão da sala, juntos, compusemos noite nossa, noite clássica. Voltara para o universo, para seu mundo, para meus braços. Estava novamente à deriva, porém, não de uma noite agitada, pessoas frívolas ou conversas sem rumo. Estava "à deriva... no firmamento".

segunda-feira, 1 de março de 2010

O sempre seguir em frente...



Parar. Mais que voltar à inércia, a capacidade de resistir aos impulsos trazidos por emoções cotidianas. Viver é nunca permanecer no marco inicial da existência. O passado arrasta-nos para o presente numa força superveniente ao nosso querer. Sem perceber, o caminho alonga-se para o futuro e o presente já é passado; e o passado, apenas lembranças. Somados, presente e passado, resultam num coeficiente “x”, indicando o futuro e para desvendá-lo, dúvidas não há, tem-se que analisar o que se que viveu e o que se vive, posto que somos hoje reflexo de nossas experiências. Nem sempre boas, nem sempre ruins, mas indubitavelmente, peças-chaves de um quebra-cabeça mutável, complexo e imensurável. Contudo, a emoção de viver cada minuto de situações imprevistas, previstas e indecifráveis não caberia na mais perfeita fórmula matemática, pois esse é o sentido de viver e a força impulsionadora desse nosso movimento e que nos faz não querer parar. Quem não consegue aprender com os ensaios da vida, estagna no tempo. Para aqueles que sabem viver, o tempo nunca é zero e o deslocamento final pertence a um ignoto finito. Forças contrárias podem nos empurrar para longe de nossos caminhos e objetivos, mas mesmo estas nos empurram para frente, para o futuro, para o novo. Talvez, diante desse caminho ainda inexplorado, possamos sentir desespero, fraqueza, medo, mas a vontade de viver e a perseverança devem sempre trilhar ao nosso lado. Elas ajudam a nos reerguer. A gente não sente que está vivo quando cai e sim quando levanta.