sábado, 20 de fevereiro de 2010

Insensatez mascarada


Chapéu preto com riscas de giz e uma máscara veneziana azul e roxa que brilhava insistentemente diante dos refletores que iluminavam as ruas naquela época. Estava pronto para adentrar na avenida. Toda a fantasia ajudava a assumir sua identidade naquela noite. Uma pessoa decidida e, estonteantemente, atraente. Roçou sua pele em alguns corpos quando embalado por aquele som carnavalesco. Uma figura tocou-lhe a mão. Indiferença, acanhamento. Foi quando decidiu que a timidez não haveria de caber, naquela noite, ao personagem que vestia e retribuiu o toque. Algumas poucas palavras ditas e seus lábios roçavam uns nos outros, fazendo-os sentir o gosto que carregam desconhecidos atrás das máscaras. Apenas um beijo, mas que despertou efeitos estonteantes de lança perfume. Dado o grande número de pessoas que habitam a cidade nesse festejo, acreditaram nunca mais ter seus corpos unidos novamente. Contudo, elementos indispensáveis a esta comemoração, serpentinas enlaçaram ambos no mesmo destino e foram derramados confetes em seus caminhos para promover um segundo encontro. A única marca que ela identificou foi o olhar dele. Alerquims insinuaram-se, lançaram-se sobre aquela, mas Colombina, não mais envolvida por aquele charme blasé, já reconhera seu verdadeiro amor, seu Pierrot. As cenas que seguiram inspiravam genuíno afeto, pele e desejo. Entregaram, naquele momento, seus corpos e corações, despidos de quaisquer disfarces ou dissimulações, como se entregassem a chave da cidade a um Rei Momo. Daquele segundo encontro, marcas deixadas pela mistura de anseio e ternura e um colar que as contas guardavam o suor de suas peles, vontade e juras de estar próximos carnalmente outras mais vezes. A incredulidade se fazia agora realidade, na rendição àquela louca e instantânea paixão; e o Carnaval, na folia e no balanço frenético de seus corpos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Casualidade refletida


A primeira luz que viu quando entrou naquele clube refletira no imenso globo prateado e percorreu toda sua pupila, fazendo uma leitura óptica de tudo que desejava daquela noite. Entre corpos estranhos e agitados, seguiu em direção ao objeto que reproduzia a imagem de alguém feliz e saudável. A excitação de ver seu reflexo impulsionaria seu corpo de volta à pista de dança. Estendeu a mão a quem lhe fazia companhia. Diferentes faces, alguns shots da melhor tequila e um badalado house proporcionaram uma distração rápida para o inesperado. Ambos levantaram os olhares que se encontraram por segundos e tornaram a abaixá-los. Por segundos, o som da boate pareceu desaparecer, junto com aquelas pessoas. Os pensamentos confundiam-se diante da surpresa. Estava diferente daquele que conhecera. Respirou fundo antes de sentir uma mão delicada pousar em seu ombro e dar um leve aperto. Sua melhor amiga transmitia-lhe força e coragem. Sua imediata reação foi o abraço. Aquele peito colado ao seu trazia-lhe conforto. Agradeceu por tê-la ao seu lado naquela hora. Precisou de um cigarro para tragar aquele encontro. A fumaça que passava por entre seus lábios ganhando a atmosfera, aos poucos, levou consigo a insegurança que aquela casualidade lhe fez inspirar. Mais uns passos, passos de dança, passos de distância, reconheceu aquele mesmo corpo colado a outro. Suas bocas comprimiam-se. Encarou aquela cena enquanto um desconhecido lhe encarava. Com semblante enigmático e aparentemente inabalável deu as costas ao indesejável aos olhos e inaceitável para o orgulho. A noite seguiu o rumo esperado desde então. Luzes, flertes, glamour. A única surpresa foi o olhar de quem conhecia, atravessar seu corpo enquanto um estranho falava-lhe ao pé do ouvido.