segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Limpando o closet

Em meio a livros, acessórios, peças de vestuário e remédios, toda bagunça produzida por alguns dias de reclusão em casa, o rubro do papel se destacou quase que ofuscando todos os outros objetos. Ele fingiu não ter visto, talvez porque soubesse desde já o que aquilo significava. Imediatamente passou a arrumar aquela sua desordem organizada. Dobrava cada roupa com velocidade beirando à inação. Colocou camisas e bermudas separadas, depois, por tipo de tecido e cor, numa sequência que lembraria uma aquarela. Reuniu e limpou cada par de sapatos que possuía. Um pano com algum produto de limpeza trouxe ao ambiente cheiro de orquídeas e lustrou o móvel. Amassou alguns papeis que não possuíam mais serventia, mas não conseguiu fazê-lo com aquele, em cima de sua cama, que mirava-o. Sentou-se e abriu rapidamente aquela que seria uma carta. Assinada e datada de seis meses atrás, trazia consigo muitas dúvidas e, ainda, amor. Por muito tempo vinha se perguntando se teria sido sua culpa, somente, o fim do seu romance. Se fora por falta de amor ou excesso dele. Cada passo que deu após o relacionamento inspirava crescimento e amadurecimento. Não sabia a razão do fim, mas tinha certeza de que o que ambos viveram e sentiram foi sincero e real. Cada linha daquela mensagem guardava o mais puro afeto do seu antigo amor. Elas narravam alguém confuso e desesperado por sentir algo tão forte e ter medo de machucar quem ama. Lágrimas pareciam estar sendo derrubadas enquanto as palavras se juntavam formando frases, compondo aquela triste nota de conclusão. Quem quer que tivesse acesso àquela, teria a impressão que se tratava de duas pessoas que ainda se amavam. Quando a última palavra foi lida a dúvida de meses desfez-se em segundos. Não por falta ou excesso, pela insegurança. A lágrima contida em seus olhos finalmente pode rolar pelo seu rosto encontrando um sorriso de satisfação. Pode parecer triste e melancólico, contudo trata-se de alguém que descobriu a tentativa do acerto face ao erro e a asserção de não mais repeti-lo. A felicidade também está no contentamento de quem descobre o progresso pessoal. Por um momento, ele pensou em jogá-la junto aos outros, mas mesmo limpando o “closet” que abriga o passado e seguindo em frente, algumas lembranças merecem permanecer preservadas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Promessas e despedida



Deitados numa cama estreita decidiram a hora de partir. Caminharam até a porta, entreolharam-se e deram um beijo que se entendia por despedida. O que ficou, fixou atenção e vistas no caminho de quem partia, perdeu-se neste por alguns segundos. Fechou a porta e subiu as escadas passando por cada degrau lentamente, temendo se afastar ainda mais de quem partira. No outro quarto, dois outros corpos se tocavam, com ansiedade, desejo, saudade e também despedida, ouviu os sons dos gemidos soltando por entre as fendas da porta. Sentou-se numa poltrona. A pouca luz que entrava pela varanda da casa e a umidade das paredes a deixava triste, muito diferente dos momentos que vivera ali. O clima se fazia sombrio desta vez. Na vã tentativa de reviver os momentos, buscou na memória todos que podia. Quando a porta do quarto se abriu, era hora de arrumar sua bagagem. Dentro da mala, bons momentos, pessoas especiais e a vontade de permanecer. Não queria voltar pra realidade. Não sabia o que o esperava, não sabia para o que estava voltando. Mas sabia o que ficava para trás. No caminho para o embarque, piadas memoráveis para amenizar a dor da volta. Acomodado em seu assento, foi tomado por uma saudade em tom inesperado. Olhando pela janela do ônibus, deu-se conta que permanecera ali por pouco tempo posto a quantidade de coisas vividas, mas era apenas o inicio do verão.