
Ao seu redor apenas uns carros. No chão, poeira e asfalto se confundiam. Acima dele, uma árvore de tronco bastante forte e intimamente ligada a terra por sua raiz funda, o cobria com sua sombra. Estava sentado em um banco num lugar bastante familiar. Esse foi o cenário escolhido para que pudesse espairecer e se acalmar. Lembrava daquele lugar muito bem. Não haveria de ser diferente, cada centímetro daquele pateo tinha marcas por ele deixadas. Memórias de sua infância logo vieram pousar sobre seus pensamentos. Brincadeiras, pessoas queridas, momentos, vida. Momentos que ficarão pra sempre em sua recordação. Amigos que a vida separou, mas que sempre carrega no coração, amigos que o acompanham até hoje e que aquela não há de afastar. Retornou àquele lugar, onde fora menino, agora homem. Percebeu o peso de tal mudança e já não se reconhecia mais com aquele semblante angelical de outrora. Sentiu saudade dos tempos em que era livre, tempos de pouca preocupação e muita felicidade. Pouca coisa havia mudado desde sua época. Além do banco de cor amarela, foram acrescentadas também algumas árvores e jardins. Apenas o muro gritava diferença. Antes parecia maior, o via como uma fortaleza, aniquilando a existência de um mundo além daquelas fronteiras, hoje apenas uma construção. Lembrou-se de sua avó que lhe fazia almoços e doces e que sempre debruçava-se sobre a janela a olhá-lo, como quem guarda um tesouro. Sua madrinha que acostumou-o com bolos e café nos finais de tarde. Tios, tias, primos e amigos. Aquele lugar abrigava grande parte de sua história. Todas aquelas lembranças lhe trouxeram serenidade e a certeza de que enquanto criança era realmente feliz. A pouca luz deu-o mais privacidade e aconchego. Ligou o “Music Player” do celular e ao som de um MPB, pensou, sorriu... aquietou-se. Deixava mais uma marca, desta vez, não presa àqueles muros ou fixadas naquele solo, mas em sua pele, como uma tatuagem de traços finos e delicados... seu retorno.